quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Augusto de Campos: entrevista sobre Rimbaud

Sobre a tradução de Le Bateau Ivre de Rimbaud
Entrevista com Augusto de Campos

1 - JARDEL: O que o levou a traduzir "Le bateau ivre" de Rimbaud?

AUGUSTO DE CAMPOS: É um dos mais belos poemas de Rimbaud, impressionante pela pouca idade que ele tinha (15 ou 16 anos), profético em relação ao seu próprio destino. Um biopoema, onde a "presentificação" vivencial do poeta se opera, sim, através da metáfora do "barco bêbado", mas por uma concretização e uma concentração de imagens que fazem do "visionário" também um "visualista", um pré-imagista de grande modernidade.

2 - JARDEL: Conte-nos um pouco sobre o seu processo de tradução do poema de Rimbaud.

AUGUSTO DE CAMPOS: O poema original ostenta uma técnica impecável e inovadora, quanto à estrutura rítmica e rímica. Procurei replicar por igual em português, fugindo ao barateamento das rimas, às inversões e às adjetivações fáceis, usuais nos seus tradutores, e mantendo o "tonus" de suas imagens e aliterações, acentuando-as o mais que pude (p.ex. "Fermentam de amargura as rubéolas do amor", por "Fermentent les rousseurs amères de l´amour", onde "rubéolas", mais intensivo, toma o lugar de "sardas", formando um alexandrino perfeito; ou o aliterativo "Penínsulas em pânico" por "Péninsules démarrées".

3 – JARDEL: Segundo Hugo Friedrich "com Rimbaud começou aquela separação entre sujeito poético e eu empírico (...) que impediria de entender a lírica moderna como expressão biográfica". a) Não seria este o fato mais importante da revolução rimbaudiana para a poesia do século XX? b) Que
outros elementos o Sr. aponta como fundamentais para a poesia moderna que derivam de Rimbaud?

AUGUSTO DE CAMPOS: Num poema como VOGAIS, de Rimbaud, certamente a supressão do eu biográfico é evidente. Parece-me, no entanto, que o atributo que Friedrich confere a Rimbaud, como um todo, caberia mais a Mallarmé. Ainda assim, em ambos a expressão biográfica reponta, aqui e ali, em Rimbaud mais do que em Mallarmé, onde é mais recessiva, criptografada. Quanto a outras considerações, reporto-me ao estudo que integra o meu livro RIMBAUD LIVRE.

Um comentário:

  1. Muito Boa Entrevista, e que prazer poder disfrutar de explicacoes de alto Nivel!!! Um grande abraco amigo Jardel! Bravooo! Claudius.

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