sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A Arte- por Rilke, Sartre, Huizinga, Jorge Coli



“Não há nada menos apropriado para tocar numa obra de arte do que palavras de crítica (...) As coisas estão longe de ser tão tangíveis e dizíveis quanto se nos poderia fazer crer; a maior parte dos acontecimentos é inexprimível e ocorre num espaço em que nenhuma palavra nunca pisou. Menos suscetíveis de expressão do que qualquer outra coisa são as obras de arte - seres misteriosos cuja vida perdura, ao lado da nossa, efêmera."
(Rilke. Cartas a um jovem poeta)

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“Se o pintor nos apresenta um campo ou um vaso de flores, seus quadros são janelas abertas para o mundo inteiro; esse caminho vermelho que penetra pelos trigais, nós os seguimos bem mais longe do que Van Gogh o pintou, entre outros campos de trigo, sob outras nuvens, até um rio que se lança no mar; e prolongamos ao infinito, até o outro lado do mundo, a terra profunda que sustenta a existência dos campos e da finalidade. [Pois] através dos poucos objetos que produz ou reproduz, o ato criador visa a uma retomada total do mundo. Cada quadro é uma recuperação da totalidade do ser. Pois a finalidade última da arte é recuperar este mundo, mostrando-o tal como ele é, mas como se tivesse origem na liberdade humana”.
 (Sartre - O que é literatura)


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“A poiesis é uma função lúdica. Ela se exerce no interior da região lúdica do espírito, num mundo próprio para ela criada pelo espírito, no qual as coisas possuem uma fisionomia inteiramente diferente da que apresentam na ‘vida comum’, e estão ligadas por relações diferentes das da lógica e da causalidade. Se a seriedade só pudesse ser concebida nos termos da vida real, a poesia jamais poderia elevar-se ao nível da seriedade. Ela está para além da seriedade, naquele plano mais primitivo e originário a que pertencem a criança, o animal, o selvagem e o visionário, na região do sonho, do encantamento, do êxtase, do riso. Para compreender a poesia precisamos ser capazes de envergar a alma da criança como se fosse uma capa mágica, e admitir a superioridade da sabedoria infantil sobre a do adulto”.
 (Huizinga - Homo Ludens)


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“A inteligência exigida e secretada pela obra de arte, sua lucidez específica, são diversas. Elas estão contidas num gesto, numa inflexão de voz, numa rima, num tom de um céu, numa metáfora. (...) Esses e infinitos outros são momentos de um todo que adquire sentido através de uma percepção sensorial, de uma intuição. Um veículo indispensável são as emoções, em todas as suas gamas; é a experiência insubstituível. Nos compreendemos através delas, e não pelo recado do conceito. (...)
         O ensino trazido pelas artes se faz por ascese, por iniciação, pelo olhar demorado, pela escuta atenta. Isso acarreta uma séria moralidade à soberba dos conceitos e da teoria. Pois as obras gostam de nossa atenção. Mais e mais a elas nos consagramos, mais e mais elas nos devolvem sentidos ocultos, inimaginados. E com isso fogem constantemente ao rigor classificatório, escapam das camisas-de-força que lhe são impostas. Denunciam assim a estreiteza e a tirania dos sistemas. Indica-lhes os limites.”
(Jorge Coli - O elogio das trevas)








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