A primeira condição
pela qual a arquitetura difere das outras artes é que ela é muito dispendiosa.
Estando a arquitetura tão vinculada às fontes de finanças e poder, é muito mais
difícil para o arquiteto do que para outros artistas operar dentro de uma cultura
particular aparentemente autônoma ou manter a independência em relação ao gosto
burguês, o que tem sido a ambição da arte desde o início do século XIX.
Para desempenhar um
papel crítico eficaz, a arquitetura precisa aliar-se às principais tendências
econômicas declaradas como progressistas – como aconteceu na década de 20,
quando a “modernização” e o avanço técnico foram associados à renovação social
e a uma visão utópica.
A segunda condição pela
qual a arquitetura difere das outras artes é que seu modo de recepção é o da
distração em vez da contemplação. Como Walter Benjamim ressaltou em seu ensaio “A
obra de arte na sua era de reprodutibilidade técnica”, esse modo distraído de
recepção – que o levou a ver a arquitetura como um paradigma para as artes
caracteristicamente “modernas”, a fotografia e o cinema – é moldado pelo
estabelecimento de hábitos. Dessa maneira, o poder que inicialmente parece ser
investido no arquiteto é retirado dele – em primeiro lugar, porque ele é um
mero agente e, em segundo lugar, por meio de um tipo de indiferença diante da
arquitetura que decorre de sua própria ubiqüidade e utilidade.
Esses fatores desempenharam
um grande papel no fracasso do movimento moderno na arquitetura em estar à
altura de seu próprio programa, fundamentado como era em uma visão um tanto
fictícia do papel profético e influente do arquiteto na sociedade.
A arquitetura fundou sua promessa em grande parte, na crença de que a tecnologia poderia resolver os problemas práticos e artísticos da existência social moderna.
Muitos fatores contribuem para a reação contra a cidade modernista. Um deles é a visão de que ela era essencialmente impossível de ser construída, exceto sob as inerentemente raras condições políticas que possibilitaram uma Brasília - e, que nesse caso, o resultado era altamente questionável, tanto do ponto de vista sociológico quanto estético.
Brasília
In: COLQUHOUN, Alan. Modernidade
e tradição clássica: ensaios sobre arquitetura. SP: Cosac & Naify,
2004.
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