domingo, 26 de fevereiro de 2012

Notas sobre Arquitetura, por ALAN COLQUHOUN


prédio de Le Corbusier

A primeira condição pela qual a arquitetura difere das outras artes é que ela é muito dispendiosa. Estando a arquitetura tão vinculada às fontes de finanças e poder, é muito mais difícil para o arquiteto do que para outros artistas operar dentro de uma cultura particular aparentemente autônoma ou manter a independência em relação ao gosto burguês, o que tem sido a ambição da arte desde o início do século XIX.

Para desempenhar um papel crítico eficaz, a arquitetura precisa aliar-se às principais tendências econômicas declaradas como progressistas – como aconteceu na década de 20, quando a “modernização” e o avanço técnico foram associados à renovação social e a uma visão utópica.

A segunda condição pela qual a arquitetura difere das outras artes é que seu modo de recepção é o da distração em vez da contemplação. Como Walter Benjamim ressaltou em seu ensaio “A obra de arte na sua era de reprodutibilidade técnica”, esse modo distraído de recepção – que o levou a ver a arquitetura como um paradigma para as artes caracteristicamente “modernas”, a fotografia e o cinema – é moldado pelo estabelecimento de hábitos. Dessa maneira, o poder que inicialmente parece ser investido no arquiteto é retirado dele – em primeiro lugar, porque ele é um mero agente e, em segundo lugar, por meio de um tipo de indiferença diante da arquitetura que decorre de sua própria ubiqüidade e utilidade.

Esses fatores desempenharam um grande papel no fracasso do movimento moderno na arquitetura em estar à altura de seu próprio programa, fundamentado como era em uma visão um tanto fictícia do papel profético e influente do arquiteto na sociedade.

A arquitetura fundou sua promessa em grande parte, na crença de que a tecnologia poderia resolver os problemas práticos e artísticos da existência social moderna.

Muitos fatores contribuem para a reação contra a cidade modernista. Um deles é a visão de que ela era essencialmente impossível de ser construída, exceto sob as inerentemente raras condições políticas que possibilitaram uma Brasília - e, que nesse caso, o resultado era altamente questionável, tanto do ponto de vista sociológico quanto estético.

Brasília

In: COLQUHOUN, Alan. Modernidade e tradição clássica: ensaios sobre arquitetura. SP: Cosac & Naify, 2004.


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