sábado, 21 de março de 2015

Andy Warhol - Flower Power




Em 1964 na Feira de Arte de Nova York World, o arquiteto Phillip Johnson pediu a 10 artistas fazerem obras de tamanhos grandes para decorar a fachada do Pavilhão dos Estados, um monumento que Johnson tinha projetado como uma celebração do progresso humano. 
Robert Indiana, Roy Lichtenstein, James Rosenquist, e Robert Rauschenberg estavam entre os artistas pop selecionados. Andy Warhol foi um outro contribuinte. No entanto, a obra " OsTreze Homens Mais Procurados" de Warhol, que mostrava fotos em serigrafia de verdadeiros criminosos, foi censurada e coberta com tinta prata, e nunca vista pelo público. 
Foi neste evento o catalisador a transição de Warhol de criminosos para florais. A flor, um símbolo da fragilidade e pureza, é a antítese da violência cega associada com o crime. O historiador de arte Michael Lobel explora eloquentemente esta colisão de temas na obra de Warhol em seu ensaio "Andy Warhol Flores"; um acompanhamento adequado para a pesquisa abrangente das 'Flores deWarhol' pinturas mostradas na Eykyn Maclean em 2012 . 
As pinturas de flores de Warhol, criadas entre 1964 e 1965, foram inicialmente inspiradas em uma fotografia de diversas flores de hibisco tomadas por Patricia Caulfield, posteriormente, a editora executivo da revista Modern Photography. 
O folheto desdobrável retratava um novo sistema de processamento de cores da Kodak de como manipular a cor. Warhol se apropriou da imagem recortada, copiada, aumentou o contraste, e feita em um formato quadrado, que significava que os quadros poderiam ser vistos de qualquer orientação.
 Uma coleção dessas pinturas foi o foco da primeira exposição de Warhol na prestigiada na Galeria Leo Castelli, no final de 1964, e sinalizou sua ascensão ao mundo da arte. Na Eykyn Maclean, os visitantes tiverm a oportunidade de se deleitar com a paleta de cores vibrantes de Warhol e a sensibilidade gráfica corajosa, um tanto fugaz, de dois anos obsessão floral de Warhol por estas.




Fonte: http://gabineted.blogspot.com.br/2014/03/andy-warhol-flower-power_2.html

sexta-feira, 13 de março de 2015

ARTHUR SCHOPENHAUER
“A coisa-em-si”, de Kant e “a Idéia”, de Platão


A doutrina de Kant é, no essencial, o seguinte: “Espaço, tempo e causalidade não são determinações da coisa-em-si, mas pertencem somente ao seu fenômeno, pois eles não passam de meras formas do nosso conhecimento. Ora, como toda pluralidade, nascer e perecer só são possíveis por meio do tempo, espaço e causalidade; segue-se daí que aqueles cabem exclusivamente ao fenômeno, de modo algum à coisa-em-si. Todavia, como nosso conhecimento é condicionado por aquelas formas, a experiência inteira é apenas conhecimento do fenômeno, não da coisa-em-si. Mesmo ao nosso próprio eu se aplica o que foi dito, e nós o conhecemos somente como fenômeno, não segundo o que possa ser em si”.
Platão, por sua vez, diz algo assim: “As coisas deste mundo, que nossos sentidos percebem, não possuem nenhum ser verdadeiro: elas sempre vêm-a-se, mas nunca são. Têm apenas um ser relativo; todas juntas somente o são em e através de sua relação uma para com a outra. Pode-se, por conseguinte, igualmente nomear seu inteiro ser-aí também não ser. Em consequência, elas também não são objeto de uma experiência propriamente dita, pois tal experiência só pode haver daquilo que é em e para si, sempre da mesma maneira. As coisas deste mundo, ao contrário, são apenas objeto de uma opinião ocasionada pela sensação, assunção baseada em percepção não comprovada conceitualmente (Platão, Timeu, 28a). Enquanto nos limitamos à sua percepção, assemelhamo-nos a homens que estariam sentados presos numa caverna escura, tão bem atados que nãopoderiam girar a cabeça, de modo que nada veriam a não ser as sombras projetadas na parede à sua frente de coisas reais que seriam carregadas entre eles e um fogo ardente atrás deles; sim, cada um veria inclusive aos outros e a si mesmo apenas como sombra na parede à frente. Sua sabedoria, então, consistiria em predizer aquela sucessão de sombras, apreendida da experiência. Ao contrário, só as imagens arquetípicas reais daquelas sombras, as Idéias eternas, formas arquetípicas de todas as coisas, é que podem ser ditas verdadeiras, pois elas sempre são, entretanto nunca vêm-a-ser nem perecem. A elas não convém pluralidade alguma,pois todas, conforme sua essência, são unas, na medida em que cada uma delas é a imagem arquetípica, cujas cópias ou sombras são todas as coisas isoladas e efêmeras da mesma espécie e de igual nome. A elas também não convém nascer e perecer algum, nem mudança; pois são verdadeiramente, nunca vindo-a-ser nem sucumbindo como suas cópias que desvanecem (nessas duas determinações negativas, entretanto, está necessariamente contido como pressuposto que tempo, espaço e causalidade não possuem significação alguma nem validade para as Idéias; elas não existem neles). Apenas delas, por conseguinte, há um conhecimento propriamente dito, pois o objeto de tal conhecimento só pode ser o que sempre é e em qualquer consideração, portanto o que é em si mesmo e imutável, não o que é, mas depois também não é, dependendo de como o vê”. Eis a doutrina de Platão.
            Vê-se nitidamente que o sentido íntimo das duas doutrinas é exatamente o mesmo. Ambas declaram o mundo visível, o mundo da experiência, um mero fenômeno, que em si é nulo, e possui significação e realidade emprestada apenas mediante o que nele se expressa. Este que nele se expressa é, portanto, o oposto do fenômeno: para Kant, a coisa-em-si; para Platão, a Idéia. Apenas a estas conferem ambos o ser verdadeiro, recusam-lhes por completo, todavia, todas as formas de fenômeno, inclusive a mais simples e universal.
            Para que isso fique completamente claro e corrente, quero explicitá-lo com um exemplo. Pensemos num cavalo diante de nós. Então perguntemos: o que é isso?
Platão diria: “Esse animal não tem nenhuma existência verdadeira, mas apenas uma aparente, um constante vir-a-ser, uma existência relativa, que tanto se pode chamar de não-ser quanto de ser. Verdadeiramente é apenas a Idéia, que se estampa naquele cavalo, ou o cavalo em si mesmo, que não depende de nada, mas é em e para si, nunca veio a ser, nunca se extinguindo, mas sempre da mesma maneira. Enquanto reconhecemos nesse cavalo sua Idéia, é por completo indiferente e sem importância se temos aqui e agora diante de nós esse cavalo ou seu ancestral que viveu há milhares de anos; também é indiferente se ele se encontra aqui ou num lugar distante, se ele se oferece desta ou daquela maneira, nesta ou naquela posição, ação, ou se, finalmente, ele é esse ou algum outro cavalo. Todas essas coisas são nulas, e tais diferenças significam algo apenas em relação ao fenômeno. Unicamente a Idéia do cavalo possui ser verdadeiro e é objeto de conhecimento real. Assim diz Platão.
Agora deixemos Kant falar: “Esse cavalo é um fenômeno no tempo, no espaço e na causalidade, que, por sua vez, são as condições a priori completas da experiência possível, presentes em nossa faculdade de conhecimento, não determinações da coisa-em-si[1]. Por consequência, esse cavalo, tal qual o percebemos neste determinado tempo, neste dado lugar, como vindo-a-ser no encadeamento da experiência – isto é, na cadeia de causas e efeitos, e em virtude disso necessariamente indivíduo que perece -, não é coisa-em-si, mas um fenômeno valido apenas em relação ao nosso conhecimento. Para saber o que ele pode ser em si, por conseguinte independente de todas as determinações encontradas no tempo, no espaço e na causalidade, seria preciso outro modo de conhecimento além daquele que unicamente é possível pelos sentidos e pelo entendimento”.

Transcrito por Jardel Dias Cavalcanti de: SCHOPENHAUER, Arthur. Metafísica do Belo. Tradução e notas de Jair Barbosa.São Paulo: Ed. da Unesp, 2003. P.31-37.





[1] - Na verdade, Kant, na Crítica da razão pura, diz que espaço e tempo são formas puras a priori da sensibilidade, pela qual os objetos nos são dados. Esta é, pois, a receptividade do conhecimento. A ela se acrescenta a espontaneidade do conhecimento, o entendimento com doze categorias radicadas nele originariamente, dentre as quais a causalidade. Daí, para o conhecimento de um objeto, ser necessário o somatório de intuições e conceitos. Intuições sem conceitos são cegas, e conceitos sem intuições são vazios. Quer dizer, Schopenhauer reduz as dozes categorias de Kant à de causalidade, e, à diferença dele, aloca-a junto com o espaço e o tempo no entendimento, para constituírem o chamado princípio de razão. Nessa interpretação, por conseguinte, Schopenhauer já adotou Kant a sua própria filosofia antes de mais uma vez adaptá-lo a seu Platão.