quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

SOMBRAS - Luciana Inhan




SOMBRA DA MORTE

É a única coisa viva que segue a Morte pelos caminhos da dor, atravessando a eternidade. Anuncia o momento de desespero aproximando-se devagar, envolvendo sua vítima suavemente, entorpecendo e cegando-a. Sopra com seu hálito podre a brisa gélida dos últimos segundos dos homens. Diverte-se ao se arrastar pelas escuridões dos becos e cavernas, construídos pela angústia daqueles que percebem seu pouco tempo de vida. Goza ao empurrar sua presa para dentro da grande boca salivante da Miséria.

***



SOMBRA DA VIDA



Fraquinha, uma velha sombra curvada e branca, quase transparente. Seus dentes já não cortam mais, suas mãos não firmam mais e seus pés deslizam em chinelos de pano. Sua voz é um sussurro e poucos ainda a podem ouvir. Seus olhos não veem quase nada à sua frente e sua bengala é que diz até onde pode andar. Não pode se esforçar. A sombra da vida perdeu o ânimo, a força, a cor, o sabor; o que restou foi um pingo de memórias e um punhado de emoções.


***

 

A SOMBRA DA BOLHA DE SABÃO
 
 
 
"Plock!"



 





SOMBRA DA VELA (bailarina)
 
  Pula, salta, rodopia, não fica parada no mesmo lugar. A brisa que entra pela janela do quarto balança seu cabelo e, se sentindo ainda mais sensual, a sombra escorrega pelas paredes do quarto como se dançasse uma música surda que só ela pode escutar. Abaixa, senta, levanta, a sombra rebola e roda seu vestido emprestado pela noite que a luz da lua é quem mais faz brilhar. Na ponta dos pés desliza lasciva bem próxima, e quando avanço, se afasta como num susto: pulando e tremendo. Mas acho que rindo do desejo desperto e sábia de seu poder sobre mim.


 

do livro: INHAN, Luciana. Sob. Juiz de Fora: Espectro Editorial, 2013.

obs: desenhos de Henri Michaux




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