Gargantua
de Rabelais e o Renascimento
O
príncipe Gargantua, o bebê gigantesco de Rabelais, nascido ao ar livre, em meio
a uma festa, acordando para a vida abrasado pela sede e pedindo alto o que
beber, deve ter sido um símbolo intencional da infância do Renascimento, que
veio ao mundo desenfaixado e sedento, para beber e tornar-se forte bastante
para a derrubada de falsas barreiras e a reinstalação dos sentidos, que a
religião ensinar a desprezar. A beleza se manifestou novamente ao homem – a beleza
e a alegria que ele aprender a considerar como inimigas mortais do
Cristianismo. E, inspirado em mármores e manuscritos recém encontrados, numa
espécie de intoxicação, abraçou de novo o Paganismo e a Natureza, e reconheceu
no corpo do homem o intérprete, não o adversário de sua alma.
Essa
emancipação, esse poder de expressão, manifestou-se em todas as direções. A mente
humana estava apaixonada; não havia uma região árida no reino do conhecimento e
da arte. A arte oi, talvez, o meio mais vigoroso e permanente de auto-revelação
escolhido pelo Renascimento. Na pintura, na escultura, na ourivesaria e nas
gemas cinzeladas, aquele maravilhoso período floresceu e frutificou, tão fértil
quanto se fosse uma segunda natureza com suas próprias leis e estações.”
In:
SICHEL, Edith. O Renascimento. Rio de
Janeiro: Zahar, 1977.
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