Stravinski e Giacometti
Stravinski por Giacometti
Robert Craft: Como foi que Giacometti veio a
fazer desenhos de você?
Igor Stravinski: Ele tinha feito cinco ou seis
esboços a partir de fotografias, antes de me encontrar, e não gostou. Depois,
sentado bem perto de mim, fez uma série completa, trabalhando muito depressa,
dedicando apenas alguns minutos a cada desenho. Diz que em escultura também dá
a obra por terminada muito rapidamente mas que antes faz, às vezes
vagarosamente, por longos períodos, centenas de estudos preparatórios, que são
abandonados.
Desenhava com um lápis muito duro, e apagava as linhas com
borracha, de vez em quando. E sempre murmurando: “Non... impossiblie... je ne peux pas... um tête violente... je n´ai pas
de talent... je ne peux pas...”.
Ele me surpreendeu a primeira vez que veio, porque eu
esperava um Giacometti alto e magro. Disse-me que acabava de escapar de um fabricante
de automóveis o qual lhe oferecera uma soma considerável para afirmar que
carros e esculturas são a mesma coisa, isto é, belos objetos. De fato, um dos
tópicos favoritos de Giacometti era a diferença entre uma escultura e um
objeto. “Os homens a andar na rua em diversas direções não são objetos no
espaço. A escultura é uma matière
transformada em expressão, expressão na qual a natureza conta menos que o
estilo. A escultura é expressão no espaço, o que quer dizer que nunca pode ser
completa: ser completa é ser estática. Todos os bustos são ridículos; o corpo
inteiro é o único assunto da escultura”.
Giacometti
Voltaire nu - Pigalle
Voltaire - Houdon
Para ele, Canova não era realmente um escultor, enquanto
Rodin foi o “último grande escultor, da mesma linha de Donatello (não o Rodin de
Balzac ou dos Bourgeois de Calais, naturalmente).” Brancusi não era absolutamente
escultor, disse ele, mas um “fazedor de objetos”.
Perseu - Canova
Brancusi
Eu gosto da obra de Giacometti – tenho na minha sala de
jantar uma de suas pinturas “cheias-de-espaço-escultural” e sinto afeição por
ele, por seu próprio “nervosismo”. Gosto de sua maneira de ser, numa estória
que me contou. Tinha grande admiração por Klee e, uma vez, no fim da década de
30, quando ambos os artistas moravam na suíça, ele finalmente decidiu ir
visitá-lo. Caminhou da estação até o que julgava ser a casa de Klee – na encosta
de uma montanha a certa distância da cidade – mas quando chegou, descobriu que
Klee não morava ali, mas muito mais adiante para o alto da montanha. “Perdi
toda a coragem e não fui – só tinha de ir até aquele ponto”.
O fantasma - Klee
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