LEONILSON: DOBRAS
DA ALMA
PAULO
HERKENHOFF
Em
sua arquitetura simbólica da interioridade, Leonilson cria uma espécie de
hagiografia pessoal, construindo um vocabulário de formas significantes,
articuladas em seu discurso confessional, íntimo e privado, que o coloca muito
próximo de Felix Gonzalez-Torres. Atuando quase que por recolhimento religioso,
Leonilson expõe discretamente desejo, sublimação e fé em sua obra. Em sua visão
particular da religião, observa o peso da culpa incutida no processo de
formação católica e interpreta história dos santos e de Jesus Cristo para concluir
que “a Bíblia é um livro não apenas gay, mas muito gay”. A identificação e sua
condição pessoal com o próprio teor das Escrituras leva Leonilson a produzir
obras como Conversa no seio de Cristo
(1993), ou a comparações pessoais com Cristo, no bordado 33/34 (1991). Aqui,
Leonilson constitui uma intimidade com um discurso biográfico e metafísico que
poderia ser comparado ao pathos no
barroco ou à obra de Ismael Nery.
No entanto, Leonilson está interessado no trânsito da angústia metafísica na direção da experiência possível do ser. Em entrevista a Lisete Lagnado, Leonilson projeta a função do artista como uma espécie de doação, que ele remete ao Sagrado Coração, cujo caráter devocional se expandira no barroco. O artista comenta “eu lembro do Klee fazendo aquelas coisinhas... você olha, é uma aquarelinha, mas ele tirou do coração e pôs na parede. Como Jesus Cristo, que andou em cima do lago da Galiléia. Tirou o coração, deu para São João Batista e falou: “aqui está meu coração, faça dele o que quiser”. Isso é de uma beleza para mim, de um poder tão grande...”
Algumas obras de Leonilson parecem surgidas da tradição do ex-voto, que contemporaneamente havia sido retomado por Yves Klein em obra dedicada a Santa Rita de Cássia.
Na tradição de artistas
como Joaquim Torres-Garcia e Rubem Valentim, Leonilson constitui um pequeno
vocabulário de símbolos, como a linha interrompida no bordado é o riozinho que
significa água. Leonilson introduziu bordados onde havia pintura e desenho para
coser símbolos, costurar afetividade, montar cesura, prender ornamentos e fixar
dobras da alma como acidentes de seu próprio ser.”
Ismael Nery
No entanto, Leonilson está interessado no trânsito da angústia metafísica na direção da experiência possível do ser. Em entrevista a Lisete Lagnado, Leonilson projeta a função do artista como uma espécie de doação, que ele remete ao Sagrado Coração, cujo caráter devocional se expandira no barroco. O artista comenta “eu lembro do Klee fazendo aquelas coisinhas... você olha, é uma aquarelinha, mas ele tirou do coração e pôs na parede. Como Jesus Cristo, que andou em cima do lago da Galiléia. Tirou o coração, deu para São João Batista e falou: “aqui está meu coração, faça dele o que quiser”. Isso é de uma beleza para mim, de um poder tão grande...”
Algumas obras de Leonilson parecem surgidas da tradição do ex-voto, que contemporaneamente havia sido retomado por Yves Klein em obra dedicada a Santa Rita de Cássia.
Klein - Ex-voto
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