SOMBRA DA MORTE
É a única coisa viva que segue a Morte pelos caminhos da
dor, atravessando a eternidade. Anuncia o momento de desespero aproximando-se
devagar, envolvendo sua vítima suavemente, entorpecendo e cegando-a. Sopra com
seu hálito podre a brisa gélida dos últimos segundos dos homens. Diverte-se ao
se arrastar pelas escuridões dos becos e cavernas, construídos pela angústia
daqueles que percebem seu pouco tempo de vida. Goza ao empurrar sua presa para
dentro da grande boca salivante da Miséria.
***
SOMBRA DA VIDA
Fraquinha, uma velha sombra curvada e branca, quase
transparente. Seus dentes já não cortam mais, suas mãos não firmam mais e seus
pés deslizam em chinelos de pano. Sua voz é um sussurro e poucos ainda a podem
ouvir. Seus olhos não veem quase nada à sua frente e sua bengala é que diz até
onde pode andar. Não pode se esforçar. A sombra da vida perdeu o ânimo, a
força, a cor, o sabor; o que restou foi um pingo de memórias e um punhado de emoções.
***
A SOMBRA DA BOLHA DE SABÃO
"Plock!"
SOMBRA DA VELA (bailarina)
Pula, salta, rodopia, não fica parada no mesmo lugar. A brisa que entra pela janela do quarto balança seu cabelo e, se sentindo ainda mais sensual, a sombra escorrega pelas paredes do quarto como se dançasse uma música surda que só ela pode escutar. Abaixa, senta, levanta, a sombra rebola e roda seu vestido emprestado pela noite que a luz da lua é quem mais faz brilhar. Na ponta dos pés desliza lasciva bem próxima, e quando avanço, se afasta como num susto: pulando e tremendo. Mas acho que rindo do desejo desperto e sábia de seu poder sobre mim.
do livro: INHAN, Luciana. Sob. Juiz de Fora: Espectro Editorial, 2013.
obs: desenhos de Henri Michaux
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